quinta-feira, 25 de abril de 2024

Mulheres moram há três meses em McDonald’s do Leblon

 Mãe e filha passam o dia na loja, onde fazem todas as refeições, e dormem na calçada, após as portas serem fechadas. Elas recusam a ajuda de moradores e autoridades. A CBN acompanhou, nas últimas semanas, a rotina das duas para entender quem elas são e por que estão nessa situação.


Duas mulheres estão morando no McDonald’s do Leblon, na Zona Sul do Rio, bairro com um dos metros quadrados mais caros do país. A rotina se repete todos os dias, há quase três meses. Acompanhadas de ao menos cinco malas grandes, elas dormem sentadas na calçada, esperam a loja abrir e passam o dia na lanchonete. As refeições são feitas no próprio local.

A loja da rede de fast-food está localizada na esquina das ruas Carlos Góis e Ataulfo de Paiva, a poucos metros do mar. O local fecha às cinco da manhã e reabre às dez. A CBN acompanhou, nas últimas semanas, a rotina das duas mulheres para entender quem elas são e por que estão nessa situação.


Os vizinhos do McDonald’s contam que vêem as mulheres todos os dias por lá. Chama a atenção que elas têm celulares, estão sempre com roupas limpas, carregam ao menos cinco malas em bom estado, mochilas, e possuem dinheiro para pagar o que consomem na loja e em outros comércios da região.

Há três meses, todos os dias, um empresário que mora na região observa, da janela de seu apartamento, a dupla sentada na frente da lanchonete, esperando os funcionários abrirem as portas.

As mulheres não aceitaram, até o momento, a ajuda de ninguém - nem de moradores, nem de empresários, nem do poder público. A Polícia Militar, uma equipe do Segurança Presente e funcionários da prefeitura já tentaram fazer contato, mas a ajuda foi dispensada todas as vezes.


Desde o começo do mês, a reportagem da CBN passou a frequentar a rua Carlos Góis com recorrência, conversando com vizinhos, comerciantes, ambulantes e, claro, com essas duas mulheres. Elas dizem que são mãe e filha, se chamam Suzy e Bruna, e não quiseram passar sobrenomes. Suzy, a mais velha, aparenta ter cerca de 50 anos. Bruna, a mais nova, menos de 30.


As duas falaram que nasceram no Rio Grande do Sul, mas moram no Rio de Janeiro há oito anos. Em uma das visitas, Suzy disse que quer encontrar um aluguel no Leblon por até R$ 1.200, algo impossível nos dias de hoje. Ela afirmou que está visitando apartamentos da região e escolhendo a nova moradia e que, até lá, prefere não gastar dinheiro e esperar a nova casa aparecer.

Em outra visita, Bruna estava sozinha. Enquanto ouvia a reportagem, ela fazia maquiagem, passava pó e se olhava num pequeno espelho que tinha na bolsa. Bruna confirmou a história da mãe: as duas estão procurando um apartamento com um orçamento apertado. Ela disse ainda que estavam bem de saúde, que a mãe teve um problema no olho, mas já havia sido resolvido.

Em todos os contatos, Suzy e Bruna foram de poucas palavras, mas trataram com cordialidade o repórter. Elas negaram qualquer entrevista.


Após as negativas de entrevista, a reportagem buscou novos caminhos para tentar desvendar a história. Primeiro, entrando em contato com a Secretaria de Assistência Social do Rio. Uma equipe foi ao local, mas a ajuda foi recusada por mãe e filha.

Em outro momento, conversando com a equipe do Segurança Presente, um programa de proteção instalado no bairro. Assistentes sociais da iniciativa também estiveram no McDonald’s, mas foram recebidas de forma ríspida e sequer conseguiram fazer o cadastro de Bruna e Suzy.

Por telefone, uma das profissionais disse que estava preocupada com a situação, que parecia mais complexa do que a narrativa sobre mãe e filha procurando um apartamento para alugar. À assistente social, elas relataram que o marido de Bruna estava em Paris, na França, e que assim que ele voltasse a família alugaria o imóvel. Nas conversas com a reportagem, as duas nunca mencionaram a existência desse homem.

Foi com um ambulante da região que algumas respostas começaram a surgir. Nilson Mendonça vende água de coco na mesma esquina do McDonald’s. Está ali todos os dias e acompanha o movimento. Nilson chegou a trabalhar em um hotel em Copacabana antes da pandemia e contou que Suzy e Bruna deram um calote nesse estabelecimento, pois saíram sem pagar, em 2022.

Nilson ainda relatou que elas chegaram a ser despejadas de uma casa na Cruzada São Sebastião, conjunto habitacional do Leblon onde ele mora, próximo ao McDonald’s, também por falta de pagamento do aluguel.

Uma pessoa que trabalhou na gerência do hotel na época confirmou a história e disse que a direção preferiu não denunciar o caso à polícia, para evitar exposição.

O caso de Bruna e Suzy foi parar nas redes sociais, em perfis que compartilham notícias de bairros do Rio. Relatos nos comentários dos posts afirmam que as duas estão vagando pela cidade há algum tempo e já teriam passado uma temporada no Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, e outra no parque Jardim de Alah, também no Leblon.

Por Pedro Bohnenberger — Rio de Janeiro

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